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A aliança masculina e a mulher "louca"

  • Foto do escritor: Gabriela Corrêa Leal
    Gabriela Corrêa Leal
  • 4 de abr. de 2023
  • 3 min de leitura

A fala "Vocês homens, fizeram tudo direitinho, né? Fizeram seus joguinhos, fizeram suas redes.Vocês se ajudaram. Estavam fazendo as coisas todas para se proteger e deixando o feminino um lugar recluso. Mas que joguinho sujo, e acharam que a gente não fosse fazer nada. Nós vamos aprender as suas técnicas, nós vamos melhorá-las, nós vamos aprimorá-las e vamos usar entre nós. Vamos aprender a lutar, vamos pegar em armas, vamos pegar os nossos corpos como armas e aí o jogo vai virar para vocês. Eu não queria estar na pele de vocês" da Linn da Quebrada ilustra o documentário de 3 episódios chamado “Assassino Indiano: Morte no Tribunal”.


A série conta a história real do linchamento sofrido pelo estuprador em série e assassino Akku Yadav na cidade de Nagpur, em pleno julgamento pela sua vida criminosa permeada de misoginia, ou seja, ódio e violência contra o gênero feminino.


Akku Yadav invadiu casas, roubou pertences de moradores, assassinou homens e mulheres por anos. Cúmplices do homem praticavam a violência sexual em grupo, cercando e aterrorizando as mulheres, espancando seus entes queridos como cunhados, maridos, pais para que eles não pudessem impedir a agressão.


Muitas famílias se mudaram, deixaram suas casas com apenas a roupa do corpo. Mães escondiam suas filhas e casavam-nas o mais cedo possível para que passassem despercebidas pelo criminoso. Ainda assim, mulheres com o matrimônio formado não escapavam de sua fúria. Sobreviventes de estupro sentiam vergonha do próprio corpo, eram expulsas de casa pelos familiares e rejeitadas pelos maridos por serem consideradas impuras, escondendo o rosto pelo constrangimento e culpa.


A história aborda tanto a aliança feminina como a masculina. A aliança masculina é fortalecida pela descrença dos homens nas acusações de estupro de inúmeras mulheres, desde crianças até idosas. Mulheres procuraram a polícia a qual desacreditou do relato dolorosamente exposto pela vítima, e contatou o acusado, expondo a identidade da mulher, colocando-a em perigo maior quando Akku quis se vingar.


Amigos íntimos de Akku, alguns colegas de cela, os quais não fica explícito se participaram do crime ou não, defendem o agressor. Juram de pé junto que Akku não distinguia mulheres por casta, escolhendo pobres, ou que cometia violência sexual.


Temendo pela vida, as mulheres as quais foram vítimas formaram uma aliança. Era matar ou morrer. Mais de 200 mulheres (metade relatou ser vítima de agressão sexual) invadiram o tribunal e mataram o homem com uma tremenda fúria. Estudiosos e profissionais como advogados e jornalistas não acreditaram que mulheres guardariam tanta raiva dentro de si que tirariam a vida de alguém, ainda mais da maneira gráfica a qual o assassinato foi praticado.


Há um paradoxo na cultura do estupro: as mulheres são culpadas pelo assédio sofrido, mas não são fortes e corajosas o suficiente, não tem a força que só o masculino tem para se defender. Quando elas tomam a decisão de endurecerem seus corações e matar, elas são desacreditadas ou analisadas como assassinas a sangue frio como no caso da Sally Killer, outro documentário sobre a reação mortal de uma mulher abusada.


A cultura patriarcal atua fortemente no caso ocorrido em Nagpur. O machismo autoriza o feminicídio e o estupro como um direito do homem, e após o ato, o corpo da mulher perde o atrativo de objeto sexual para o marido, um corpo o qual nunca realmente pertenceu àquela mulher. As mulheres sabem que são elas por elas mesmas, e desprotegidas pelo Estado, decidiram fazer justiça com as próprias mãos.


Homens protegem homens para continuarem a perpetuar o ciclo de ódio contra o feminino, e a única reação possível para nós mulheres é lutar contra a ameaça como uma mulher furiosa. Pois como diz Taylor Swift, “Ninguém gosta de uma mulher louca, que pena que ela enlouqueceu. Você fez ela ficar assim”.

 
 
 

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